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O ano é 1981.
Nas ruas da capital gaúcha o Fusca era o carro mais comum, mas também é possível ver Chevettes, Fiats 147, Corcel, Del Rey , Kombis e, claro, os suntuosos Opalas. O posto de combustíveis Barril anuncia com uma faixa, TEMOS ÁLCOOL. Essa é a imagem da capital de todos os gaúchos. Porto Alegre. A cidade onde os jovens frequentavam a lanchonete Joe’s lá no alto da Ramiro para beber o chamado “melhor milkshake da cidade”, apesar de o maior sucesso mesmo ser a Banana Split.
A cidade está com um clima diferente, de ressaca. Na noite anterior os rádios de gremistas e colorados estavam sintonizados no estádio Morumbi em São Paulo, no dia seguinte a maioria do Estado do Rio Grande do Sul comemora. Nas bancas de jornais as manchetes explicam os cheiros e sabores da capital gaúcha, “Grêmio Campeão Brasileiro” em letras garrafais na Zero Hora. No Correio do Povo a manchete diz “Grêmio o justo campeão nacional”. Na folha da tarde em letras garrafais, Grêmio é o melhor do Brasil.
Emanuel Mattos escreveu na Revista Placar e resumiu a noite de êxtase: “Loucura – é o mínimo que se pode dizer para sintetizar os sentimentos que essa nação gremista soltou no melhor dia dos 77 anos do clube, o dia em que o Grêmio chegou pela primeira vez ao título de campeão brasileiro. É impossível descrever de outra forma aquela massa que se deslocava aos milhares em direção ao aeroporto Salgado Filho para receber os novos heróis do Rio Grande cantando o refrão do hino gremista com um ufanismo comovente.”
A história do primeiro título brasileiro do Grêmio começa antes da noite de três de maio no estádio do Morumbi em São Paulo.
Se tem uma coisa que a CBF adora fazer é inventar fórmula de campeonato. No ano de 1981 também não foi diferente. Originalmente chamado de Taça de Ouro, o Brasileirão daquele ano contou com 6 clubes vindos do Paulistão, 5 clubes do Carioca, dois do Gauchão, Mineiro, Paranaense, Baiano, Pernambucano, Cearense e do GOIANÃO. E dos outros estados, apenas o campeão de cada certame estadual. Além deles, ainda vieram mais 4 da Taça de Prata, que havia sido jogada anteriormente no mesmo ano. Era como se fosse o G4 da Série B de hoje/ se juntando a Série A. Confusão TOTAL.
O campeonato começou no dia 17 de JANEIRO e a grande final foi no dia 03 de maio. Ou seja, em 4 meses o Brasileirão estava resolvido. No fim, ou no início, no caso, eram 4 grupos com 10 clubes em cada. Turno único dentro dos grupos e se classificavam os SETE primeiros de cada grupo. Uma festa.
O Grêmio estava no Grupo B, junto com Portuguesa, Operário, Goiás, Corinthians, GALÍCIA, Botafogo, PINHEIROS, Brasília e Desportiva Ferroviária.
O primeiro jogo do tricolor foi no dia 18/01 contra o Goiás lá no Serra Dourada. O placar final foi 0x0 e a gente já até imagina o alívio de não perder lá. A gente sempre perdia lá. Depois recebemos no Estádio Olímpico o Galícia – que não era um time europeu convidado e sim uma equipe da Bahia e por sinal um dos mais tradicionais clubes de Salvador – e o Desportiva Ferroviária. Duas vitórias, 2-1 e 2-0 respectivamente. E alí já começava a brilhar a estrela de Baltazar. 1 gol em cada jogo.
Ainda em janeiro saímos para enfrentar o Pinheiros e deu empate em 1-1 e depois no Estádio Olímpico foi a vez de enfrentar o Corinthians. Vitória por 1-0 com gol de Tarciso, o flecha Negra. Com 8 pontos aquela altura o Grêmio encaminhava já a classificação e as derrotas que vieram a seguir não abalaram as estruturas.
Em São Paulo perdeu para a Portuguesa por 1 a 0 e depois no Olimpico perdeu para o Brasília por 2 a 1. Entre os dois jogos uma vitória contra o Botafogo no Rio de Janeiro. Esse jogo contra o Botafogo foi no Maracanã e o Baltazar fez os 3 gols da vitória por 3-2 antes mesmo dos 30 minutos do primeiro tempo.
Hat trick. Triplete. Pede a música no Fantástico.
O tricolor ainda perdeu o jogo contra o Operário em Campo Grande no famoso estádio MORENÃO. O 2-1 contra não abalou o time que no dia 08 de março voltaria a campo já pela segunda fase do Brasileirão de 1981.
A segunda fase do campeonato eram mais 8 grupos com 4 times em cada grupo. Classificariam os dois primeiros para começar o mata-mata das oitavas de final. O Grêmio ficou no grupo E com São Paulo, Inter de Limeira e Fortaleza.
Na estreia da segunda fase fomos ao Morumbi e tomamos o famoso SACODE. 3-0 para o tricolor paulista, fora o baile. Mal podiam esperar pelo troco que ainda estava por vir.
Ganhamos do Fortaleza por 2-1 e da Inter de Limeira por 3-1 na sequência das rodadas. Baltazar marcou outro gol contra a equipe cearense no Estádio Olímpico. Na partida seguinte, recebemos o São Paulo e vitória por 1-0 com gol da estrela: Baltazar.
Fomos a Fortaleza ganhar de 4 a 0 da equipe local e depois ganhamos da Inter de Limeira em casa por 1-0 a classificação para as oitavas de final estava garantida.
Pelo rankeamento o Grêmio encarou o Vitória no primeiro confronto do mata-mata. O primeiro jogo em 09 de abril em Salvador e a equipe baiana venceu a partida por 2-1. Tarciso fez o gol tricolor que garantiu uma sobrevida para o confronto da volta no Estádio Olímpico.
Na volta, o Olímpico estava cheio com mais de 30 mil pessoas e a vitória sobre o Vitória veio até com certa tranquilidade. O tricolor abriu o placar logo aos 6 minutos com Paulo Isidoro e controlou a partida. O segundo e derradeiro gol veio aos 3 minutos da segunda etapa com Tarciso. Classificação para as quartas-de-final garantida.
Na fase seguinte o Grêmio teria o Operário novamente pela frente. Dessa vez com o primeiro confronto em casa. Tarciso e Vilson Taddei fizeram os gols da vitória tricolor por 2-0 construindo uma boa vantagem para o confronto da volta. Apenas 4 dias depois do primeiro jogo, em 19 de abril, o Operário recebia o Grêmio no MORENÃO e não foi páreo para o artilheiro tricolor. Baltazar marcou o gol da vitória que classificou o Grêmio para as semi-finais do Brasileirão.
A semi final era contra a sensação paulista: Ponte Preta. A equipe campinense considera até hoje o ano de 1981 como o “ano de ouro” do clube. Conquistou alguns títulos e chegou até a semi-final do Brasileirão, seu melhor resultado. Mas nada como enfrentar o Grêmio para acabar com os sonhos de qualquer um.
O tricolor visitou o Estádio Moisés Lucarelli no primeiro confronto e saiu de lá com uma vitória de 3-2. Tarciso, Paulo Isidoro e Vilson Taddei fizeram os gols do Grêmio. O jogo foi encrespado e o tricolor virou a partida após sair perdendo logo no início. A vitória trouxe uma vantagem considerável para o confronto decisivo no Estádio Olímpico.
26 de abril de 1981 e um público oficial de 98 MIL PESSOAS. Isso mesmo. Oficialmente naquele dia em Porto Alegre tinham 98 mil pessoas dentro do Estádio Olímpico.
O fato é que o tricolor estava nervoso e o jogo não saiu como a torcida imaginava. Vamos tocar aquela cornetinha aqui: O que devia ter de pé-frio nesse dia não estava no mapa. Aos 20′ do primeiro tempo, Osvaldo abriu o placar para a Ponte Preta e um silêncio preocupante tomou conta do concreto do saudoso Olímpico.
A expectativa para uma final inédita, o estádio abarrotado de gente e o revés logo no começo da partida enervaram de vez os jogadores. Só dava Ponte Preta. Nem a bronca do técnico Ênio Andrade no intervalo, pedindo um time mais leve e menos nervoso, surtira efeito.
Foi com Hugo De León, quem diria, zagueiro e capitão, de autoridade indiscutível e qualidade superior. O uruguaio tentou tirar a bola de perto da área, aparar um cruzamento. O chute, traiçoeiro, tomou o efeito contrário, quase decidido a manter o sonho azul de um título nacional confinado nos porões do Olímpico.
Mas Leão saltou como um gato, buscou a bola no ângulo e salvou o gol de uma provável eliminação catastrófica.
Quando o árbitro da partida trilou o apito final, a derrota pouco importava. O Grêmio estava pela primeira vez na final do Campeonato Brasileiro e com uma vaga garantida na Libertadores do ano seguinte.
Quis o destino que o confronto final fosse contra o São Paulo, ao qual o Grêmio já havia enfrentado na fase de grupos. A derrota de 3-0 no Morumbi na segunda fase tinha doído e o estádio são paulino seria o palco da finalíssima. O Grêmio teria que fazer lá em São Paulo o que não tinha feito antes.
No dia 30 de abril de 1981 o Estádio Olímpico recebeu 61 mil pessoas para acompanhar o primeiro jogo da final do Brasileirão. A trupe tricolor era forte. Leão no gol, De Leon, Casemiro, China, Paulo Isidora, Tarciso e Baltazar tocando o terror dentro de campo. Do outro lado um São Paulo com várias estrelas. Waldir Peres, Dario Pereyra, Serginho Chulapa. Na arbitragem do jogo: A regra é clara. Arnaldo Cesar Coelho. Nada mais do que um grande jogo se esperava. E foi.
O São Paulo abriu o placar aos 39 minutos com o artilheiro Serginho Chulapa após o Grêmio ter perdido um pênalti. Baltazar desperdiçou a oportunidade de abrir o placar e o Grêmio se atirou a buscar o resultado positivo. E veio.
Paulo Isidoro se iluminou e fez os dois gols da vitória por 2-1. Os dois gols contaram um pouco com a sorte, mas como diz o ditado: a sorte ajuda quem cedo madruga… ou algo que o valha.
Assim como na segunda fase, o Grêmio venceu o São Paulo em casa. Só que dessa vez teríamos o confronto da volta para somente decidir o título do Brasileirão de 81. E o Morumbi seria o primeiro dos grandes palcos brasileiros a se curvarem ao tamanho do Grêmio.
A data era 03 de maio de 1981 e o Morumbi recebeu 95 mil pessoas. Muitos torcedores do Grêmio lotaram o espaço da torcida visitante e puderam acompanhar de perto um jogo tenso, difícil e com doses de desespero. O São Paulo era considerado o favorito por jogar em casa com suas estrelas, mas o Grêmio tinha um time aguerrido e forte.
Teve muita pressão do São Paulo para tentar dominar a partida e abrir o marcador, mas a defesa gremista foi sólida e Leão e Hugo De León estavam inspirados naquela tarde. Aliás, não só eles. Baltazar, o artilheiro de deus, também estava inspirado e fez o gol mais importante da sua história no tricolor. O gol do título. E não foi qualquer gol. Domínio no peito, chute no ângulo. Gol de placa. Para calar o Morumbi. Para inaugurar os feitos tricolores por estádios no brasil e no mundo afora.
O título tricolor veio para dar início ao crescimento do clube como um dos grandes do país. Para colocar no mapa o Grêmio de Football Porto Alegrense pro resto do país ver. Veio para dar início a uma era de títulos e conquistas importantes. O Brasileirão de 1981 foi o primeiro do Grêmio grandioso.
Com jogadores que marcaram a época, de relevância e de muita honra vestindo o manto tricolor, impusemos um modo de ganhar, uma estirpe copera. O Grêmio vencedor que tanto cobramos aqui.
E esse MBG.Doc relembra 40 anos atrás para deixar registrado na nossa história mais esse momento do clube que amamos. E que sonhamos rever erguendo a taça do Brasileirão novamente esse ano.
Todo grande clube possui momentos definidores de trajetória, estilo e de torcedores. O Grêmio teve um dos vários grandes momentos no ano de 1981 com seu primeiro título nacional. O torcedor gremista não imaginava que essa era apenas uma pequena alegria que aquele esquadrão iria dar e que em um futuro breve iria alcançar voos maiores ainda. A ressaca da manhã de 04 de maio de 1981 se justificava, os torcedores estavam em êxtase e em justificada emoção. Atenção Brasil, aqui é Grêmio.
Pesquisa, texto e roteiro: Gabriel Pinto e Fane Webber / Locução: Fane Webber e Márcio Paz / Edição: Fane Webber / Produção: Equipe do Mesa de Bar do Grêmio.
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